Fonte: Jornal de Angola
Desenho realizado pelo Revit 3D
Será mais importante do que nunca, principalmente para quem
está a construir os seus conhecimentos no ensino superior (ou ate mesmo no
ensino médio), não deixar que este conjunto de ferramentas, que são apenas um
meio, acabe por funcionar como um fim.
Noto nos meus alunos um desconhecimento muito grande sobre
quais os softwares que lhes puderam ser úteis, quais os que tem mas aceitação
no mercado de trabalho e quais os que tem realmente uma legitima função pratica
e se adequam ao tipo de trabalho que executam.Esta é uma questão mas pertinente se pensarmos que muitas vezes é alargada também os professores universitários, que em muitos casos não conseguem acompanhar a evolução de este tipo de tecnologia. Muitas vezes a escolha recai sobre a tentativa de se dedicarem ao maior número possível de softwares, a fim de abarcar o leque existente. Esta é uma escolha errada, porque normalmente acabam por não dominar efectivamente nenhum, e o mercado está por seu lado cada vez mas exigente neste ponto.
É importante começar esta consciencialização, porque a partir
dai facilmente poderá procurar a ajuda de quem trabalha diariamente nesta área
e o poderá aconselhar melhor, como é o caso do representante da Autodesk existente em Angola. Neste
local será questionado sobre a sua área de formação e convenientemente
informado sobre quais os softwares que devera estudar e, mais importante, em
que devera manter-se actualizado. Com a periodicidade já descrita do ritmo de
lançamento de actualizações, facilmente um utilizador que não se debruce sobre
elas, pelo menos uma vez por ano vai perdendo progressivamente a capacidade de
tirar do software tudo o que ele lhe pudera dar.
Estas questões não são lançadas unicamente para o desenho de
projecto, mas também para os modelos tridimensionais que dai resultam. De
facto, não será descabido referir que as três dimensões já fazem parte do
quotidiano dos projectistas actuais. Terá sido um processo marcado por uma
evolução lenta no que toca a sua utilização, um pouco por todo o mundo.
Foram várias as razões que contribuíram para este facto,
podendo se salientar no geral a fraca qualidade do projecto (arquitectónico), o
pouco interesse em investir na promoção da imagem do mesmo, o pouco incentivo a
nível universitário para a divulgação das ferramentas que produzem 3D e, por
outro lado, a boa interactividade entre o utilizador e este tipo de trabalho e
softwares, que durante muito tempo andaram de costas voltadas.Felizmente, com o passar dos anos todas estas posições se foram alterados. É notória a evolução da qualidade dos projectos. O paradigma da construção mudou radicalmente na última década e meia. As pessoas já não pretendem apenas um sítio para morar, querem também uma identificação com o mesmo. No geral, a imagem dos objectos e dos imóveis passou a vender. O 3D veio contribuir e muito para esse desenvolvimento.
Desenho produzido pelo Softwere Estudio Max
Posto isto, os projectistas tem actualmente a sua disposição
um conjunto muito alargado de ferramentas que lhes permitem fazer facilmente o
que ate há uns anos era mais complicado desenhar. Ou seja, desenhar com ajuda
de um computador, mas mantendo uma linguagem própria de representação e
identidade.
Esta foi, de resto a principal critica feita no inicio da
utilização do AutoCAD pelos arquitectos: que se iria perder a linguagem própria
de cada arquitecto. Como nova tecnologia que era, esteve sujeita a uma grande
carga de capticismo durante toda uma fase de transição do desenho executado a
mão, com canetas de tinta-da-china, para o formato digital (CAD). Esta fase
durou alguns anos, devido sobretudo a resistência que grande parte dos ateliers
mostravam a sua utilização.
A mudança de opinião relativamente a este assunto da perda de
entidade gráfica, devido a utilização do computador, só começou a registar-se
quando começaram a surgir os primeiros arquitectos a lançarem para o mercado de
trabalho projectos com entidade gráfica própria, produzida nestas ferramentas.
Este teve de ser um processo de maturação e habituação aos softwares, que
levou, como já foi referido alguns anos.
Tratava-se de uma tecnologia recente, que permitia uma rápida
execução de projectos, com pouca margem de erro, a contrastar com os métodos
tradicionais utilizados ate então. No fundo, nunca se tratou de mostrar qual
das técnicas (a mão ou em CAD) era melhor. Só quem nunca viu desenhos
produzidos por alguns mestres da arquitectura da década de 50, 60 ou 70, é que
poderá achar que o projecto representado manualmente não possui um valor
inestimável.
Vejam-se os desenhos que compõem os projectos de Cristino da
Silva (1896-1976) ou Cassiano Branco (1897-1970), ou de qualquer outro mestre
arquitecto dessa geração.
Esta fase da representação em projecto tem, sem dúvida, o seu
lugar na história e possui uma quantidade de princípios de desenho que serão
estudados e assimilados por muitas gerações de estudantes de arquitectura no
futuro. Contudo, face as vantagens que o desenho em CAD apresentava, a transição foi inevitável.
De facto, muitos perceberam que era relativamente fácil
passar para o computador o tipo de representação que usava a mão. O resultado
final poderia ser o mesmo utilizando ferramentas diferentes. Punha-se de parte
os lápis, guaches, canetas de tinta-da-china e passava-se a usar o
software de desenho.
Quando finalmente se adquiriu esta consciência, já em plena
década de 90, é que se deu a real evolução deste tipo de produtos. A partir
dessa altura, quando os arquitectos iniciavam a utilização destas soluções,
passaram a faze-lo já mentalizados de que teriam de descobria a sua forma de
representação, a semelhança do que acontecia anos antes com o desenho a mão. A
Autodesk passou a lançar versões anuais dos softwares, bem como de novas
ferramentas de trabalho, como a família Revit,
por exemplo, no inicio da presente década.
Actualmente os arquitectos possuem um leque muito abrangente
de soluções para encontrarem as ferramentas de trabalho que melhor respondam as
necessidades de representação. A utilização destes produtos para o desenho de
projecto é um dado adquirido hoje em dia, tanto para o desenho a duas
dimensões, como três dimensões.
De facto, o que há uns anos atrás não passava de uma
ferramenta de desenho, que parecia separar o desenho de projecto de uma
representação artística, já se encontra desmistificado. Como em tudo na vida,
estas ferramentas de desenho podem ser utilizadas de duas formas: “friamente” e
apenas para representar mecanicamente os projectos, ou com um “cunho pessoal” e
intencional.
Quem actualmente conhecer linguagens como a de Zaha Hadid, e
Daniel Libeskind, entre tantos outros, não poderá pensar que esta não é uma
forma de representação artística.
Obra de Zaha Hadid
O poder de algumas
ferramentas, como o AutoCAD, Revit, 3D Max Design, permite ir ao encontro deste
tipo de representações e fornece aos arquitectos a liberdade que lhe é
necessária. Desde o inicio da criação do desenho de projecto que as formas de
representação têm vindo a evoluir. Nas décadas de 60 e 70, por exemplo, a
discussão era entre a utilização da tira linhas ou das canetas de
tinta-da-china.
O paradigma da representação de projectos alterou-se muito
nas últimas décadas, e actualmente a questão coloca-se sobre quem consegue
exprimir-se melhor através destas ferramentas. E relativamente normal, quando
se olha para um 3D, perceber de imediato quem o realizou, pela forma de
representação, ou então perceber qual é o arquitecto de desenvolveu um desenho
2D, pelo grau de pormenor ou tiques de grafismo.
Para finalizar, deixa-se a indicação de que, no fundo, o
caminho que se percorre para se vir a ser um bom utilizador das ferramentas CAD
ou BIM, tem de ser iniciado durante a universidade e através do desenho manual.
Ou seja, os princípios de projecto deverão ser assimilados inicialmente através
do desenho a mão. No entanto, também é
importante que os alunos tenham a possibilidade de começar a explorar varias
ferramentas assistindo por computador (CAD) ou BIM, a fim de começarem a
construir uma linguagem própria através deste tipo de tecnologias. Este é o
futuro, e o futuro tem de começar a ser preparado nas universidades através de
uma correcta orientação neste tipo de ferramentas.
Em suma, a evolução é notória, e é indispensável que os
profissionais da área de projecto saibam tirar proveito destas ferramentas, de
forma a tomarem mas expedita a maneira de dialogarem com os clientes. É uma forma de comunicação que esta
totalmente implementada na sociedade actual, sendo que quem a dominar estará
melhor preparado para fazer frente a um mercado de trabalho cada vez mais
exigente.
Fonte: Jornal de Angola
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