terça-feira, 4 de abril de 2017

ENTREVISTA COM O ARQº. TROUFA REAL

        
Fonte: Revista Vilas e Golfe-Angola Edition-2014

Estando prevista uma aula magna no dia 7 do corrente mês, que será proferida pelo conceituado Arqº.  Troufa Real, organizada pela Ordem dos Arquitectos de Angola, recorremos ao nosso arquivo para  recolher uma suculenta entrevista concedida ao magazine VILLAS E GOLFE que ajuda a ter uma ideia da dimensão e perfil do profissional que teremos a honra de ver e ouvir. 
Nesta entrevista o arquitecto Troufa Real revela-se um irreverente, ele próprio deixa claro: é um ser cerebral, organizado e sentimental. Com a devida vénia retomamos  extratos da grande entrevista para o consumo do nosso estimado público;
By: C. Martinho

O que significa para si ter nascido e crescido em Angola?
Um orgulho. Nasci aqui, no Hospital Maria Pia, a 18 de Março de 1941, e aqui passei a infância. Éramos três irmãos. O meu Pai era electricista na câmara e tinha de acender e apagar as luzes da cidade, era um elemento muito importante porque quando era preciso «apagar» uma casa ou uma zona para amores proibidos, e vinham ter com ele. A minha mãe era uma negra. Uma referência para mim, como todas as mães. Esta era, e é, uma terra de encantos onde existe o sonho e a ilusão da liberdade.

Esteve presente quando se fez o primeiro planeamento da cidade de Luanda. Como viveu este acontecimento?
Estudei arquitectura, mas queria ser pintor. Mas ser pintor nas famílias de classe média baixa, como é o meu caso, era desprestigiante. E depois não se ganhava a vida a pintar, então meteram-me em arquitectura. Antes passei pelas belas artes onde fui insurrecto e um indisciplinado, preso seis vezes, entre 1959 e 1961, tempos conturbados. Mas depois resignei-me. Antigamente os bolseiros ficavam obrigados a trabalhar na entidade que os patrocinava durante os anos em que tivessem a bolsa, para descontar. E eu entrei numa das melhores Universidades porque o meu pai era funcionário da Câmara, daí a minha bolsa ser desta instituição. Nesta altura, o Governador Santos e Castro ….. pôs-me no gabinete de urbanização de Luanda, onde se faziam planos muito controlados, e bem, no meu ponto de vista, porque para se fazer o plano director de uma cidade é preciso ter responsabilidade estratégica e ao mesmo tempo humana, que quase nos obriga a ter de conhecer as pessoas. Acabei por ser muito cedo o director do gabinete de urbanização, por isso estive a coordenar.

Como projectaria a futura Angola?
Com edifícios muito altos. No mínimo com 40 andares. Com uma construção a mais contemporânea possível, com novas tecnologias adaptadas ao clima. Sem problemas de estacionamento porque as pessoas andariam em transportes verticais como os elevadores. Eu sou defensor de que a capital de Angola tem de sair de Luanda. Para salvar Luanda histórica, para dar melhor qualidade de vida às pessoas e para fazer o desenvolvimento nacional no interior. A capital deveria, também apresentar uma situação geográfica e geoestratégica porque uma capital política tem que ter clima próprio, uma unidade e temperatura própria.
Luanda tem uma percentagem de humidade elevadíssima que obriga a ter aparelhos de ar condicionado, se se quiser ter máquinas fotográficas ou arquivos. Depois porque perto de 40 a 50 por cento da população de Angola vive em Luanda, o que é mau. Por isso desenhei a nova capital de Angola, chama-se Angólia. O Pepetela teve o mesmo sonho.

Diz ser um grande defensor da liberdade. O que é que ela representa para si?
Quando pensamos na liberdade, pensamos em guerra, em confusão, em meia dúzia de loucos, de gente marginal, que não sabe o que faz. Mas a liberdade é um dos actos mais inteligentes do homem. A liberdade é tão importante como a água para a nossa vida. Só é preso quem quer. Porque mesmo na prisão eu fui livre. Nunca me senti amordaçado.

Diz que Lisboa é o seu refúgio, porque?
Porque vivi nestas ruas. Porque foi aqui que encontrei a liberdade, ainda no tempo da ditadura. Porque nós somos sempre livres quando queremos. Aqui fui preso seis vezes e de cada vez que era preso ficava mais feliz.

Como define a sua arquitectura?
Eu não faço arquitectura. Não faço construção civil. Faço obras de arte. Por exemplo: o único monumento que existe em Lisboa, do Salgueiro Maia, foi desenhado por mim. Eu não faço arte para mim. Fazer um edifício para mim é respeitar as pessoas e os seus valores.

Considera-se um arquitecto moderno?
Considero-me contemporâneo, não moderno. Porque não gosto do movimento moderno. São pessoas que acham que o pensamento moderno é um pensamento racionalista. Gosto mais das surpresas. Gosto de diariamente saber para onde não vou. Gosto de descobrir. Gosto da aventura. Dai não me considerar moderno. Ter regras é uma castração. Por isso, considero-me um anti-moderno, com muito gosto racional. E contemporâneo, porque hoje a contemporaneidade tem uma grande diversidade, principalmente criada por nova geração que diz ser geração sem partido.

Como vê a relação entre os dois países: Portugal e Angola?
É óptima! Quem descer aqui ao Bairro Operário, ver a relação extraordinária que há entre o senhor David, proprietário do restaurante, e os angolanos que estão lá a conviver. Como encontra a mesma situação em Luanda. Uma coisa é a política, que nada mais é um mundo imaginário. Os políticos estão todos convencidos de que são eles que mandam no mundo. Não! São as pessoas.

Sente-se mais filho de Angola ou de Portugal?
Sou filho de uma negra de panos e de um homem branco humilde. Resultado: sou um luso-angolano com orgulho. Quando estou em Portugal sinto que sou um angolano mas que sou também português. Quando estou em Portugal defendo os angolanos. Quando estou em Angola defendo os portugueses.                                                     


domingo, 2 de abril de 2017

CONVERSA COM O ARQº. MAURÍCIO GANDUGLIA(Parte 1A)

Por: C. Martinho c/NG

Desta vez o nosso interlocutor é um arquitecto argentino que vive e trabalha em Angola há mais de 16 anos, docente da Universidade Lusíada de Angola,  disciplina   de Construções, conhecido pelo seu trabalho com comunidades em várias províncias de Angola e não só, numa abordagem diferente e profunda, relacionada com a arquitectura de terra e o uso  materiais locais.

Maurício Ganduglia é graduado pela Faculdade de Arquitectura e Urbanismo, Universidade Nacional de La Plata – Argentina. – 1997, Especialista (Post-Master) em Culturas Construtivas e Desenvolvimento Sustentável (2005-2007, Membro da Associação CRATerre - Centro de Pesquisa de Arquitectura de Terra, Grenoble-França, Autor da publicação “Arquitectura de Terra no Moxico”, Angola, 2012 e coordenou vários programas/actividades com diversas Organizações da sociedade civil, cujo foco passa pela arquitectura sustentável, educação comunitária, construção com materiais locais para a melhoria da qualidade de vida das populações em zonas rurais e urbanas.

Confira a reflexão de uma pessoa experiente que olha para arquitectura numa perspectiva complexa que vai “além das fronteiras do conceito, da geometria e da forma”;

A  primeira questão tem a ver justamente com a sua ligação à arquitectura. Como é que nasce essa paixão? 
Alguém já referiu que deveria existir o Ministério das Obras Pequenas, eu acho que o percurso constrói-se a partir de pequenos sinais, e a vida foi moldando aquilo que hoje eu sou. Vai ser um pouco extenso, mas posso vos contar alguns desses. Há duas vertentes na vida desde criança: desde a formação humanista e pedagógica no ensino primário e médio, até  as actividades extraescolares com os escuteiros salesianos, onde haviam actividades formativas (campismo, construções, etc) e sociais (campanhas e apoios aos mais desfavorecidos). Naquela altura já estávamos preocupados com a ecologia, mas simplesmente desde o respeito e o cuidado que se deve ter com a Natureza. No médio, de formação pedagógica, pensei em carreiras desde Medicina à Engenharia Nuclear, no amor pela física e as matemáticas, mas não querendo renegar das matemáticas inclinei para Engenharia Civil e finalmente, achei que na Arquitectura podia fazer esse trabalho social e melhorar a vida das pessoas: melhorando e construindo suas habitações. Na altura dos estudos universitários, os estilos que vigoravam eram o desconstrutivismo, a arquitectura contemporânea, o betão, o vidro, o ‘hightech’, e em todos os jovens, começava a ser uma coisa que “batia logo às vistas”, e transformavam-se no ideário, e em princípio isso não parecia estabelecer uma ligação directa com o tema social naquele contexto dos anos 90. 
Mas durante o percurso de formação um dos arquitectos que me chamou muito à atenção foi Livingston durante a visita a Universidade de la Plata(na Argentina) onde estudava. Ele é um argentino que toda a sua vida viveu em Cuba e faz um trabalho social, onde apresentou um método para personalizar e resolver as necessidades das famílias, quase nessa reflexão que hoje entendemos como interdisciplinar/ multidisciplinar. Em toda a vida profissional o dialogo com todos os actores da área da construção sempre foi importante, mas ao começo, era reduzido aos clientes. Olhando hoje, á distancia, acho que nesse contexto, começou por se definir uma profissão que refletia mais nos métodos do que nos resultados. Pois, foi quando vim fazer a experiência de voluntariado, no ano 2001, onde todas as formas mudaram de novo e radicalmente, e mesmo assim, continuava sendo eu. Todo o contexto que conhecemos muito bem levou a fazer essa ligação com todo o trabalho social que faço actualmente.
 
Ao verificar o seu blog, posso concluir que a arquitectura que pratica vai mais para a vertente social, pois não?
Sim, exactamente. Interessa-me a arquitectura como a expressão de sonhos, das soluções, das questões que podem ter um determinado grupo de pessoas ou indivíduos; por exemplo: uma família, uma congregação religiosa, uma comunidade rural, a cidade, portanto, tudo o que envolva pessoas.
 
E aqui noto também uma coisa que é muito interessante: o envolvimento da comunidade nos projectos. Quem executa os trabalhos muitas vezes são pessoas que fazem parte da comunidade que vão utilizar o edifício ou espaço.
Exatamente. Neste trabalho, também como agora está na moda usar materiais ecológicos e sustentáveis, pode ser muito bonito, mas se as pessoas não conhecem como funciona, como é o material, se não tivermos essa sensibilidade, o projecto será bonito para fotos e nas revistas, mas após o dia que começam a utilizar, nunca mais volta ser aquele. Então, a forma de envolver não é só porque todos fazem parte desde o primeiro momento, essa é uma das regras que tenho, que é de reflectir o projecto e vamos trabalhando com todos os grupos, se for na vida profissional é o cliente, mas também tem que se reunir com o empreiteiro, com os construtores, com todos os que fazem parte; porque temos que estar conscientes: a nossa obra ou o nosso trabalho é um dos mais complexos e estressantes porque todos os grupos sociais que estão numa cidade intervêm de uma maneira ou outra. Sob a nossa responsabilidade temos também, que cuidar da saúde, dos trabalhadores, as pessoas que vão viver, há que se trabalhar com os comerciantes porque vendem e fornecem os materiais, conversar com o cliente, que chegamos de conhecer absolutamente tudo o que eles fazem. Então com tudo isso é preciso fazer uma síntese. Uma obra arquitectónica, é algo maravilhoso e genial, tanto pela forma do objecto, quanto pelo processo para realiza-lo.
 
Quando é que as outras pessoas intervêm nesse processo que se requer participativo?
Em todo o momento, desde a fase  de pensar o que se vai fazer. A formação de arquitecto é tão vasta, que cada um tem uma tendência, alguém é mais técnico, outro mais social... Temos muitas. Então, cada um vai ter uma solução mais sustentável para determinado aspecto... Tento buscar uma forma que seja inovadora, que possa funcionar, onde a reflexão vá além da forma, além dos materiais e do estritamente técnico, logo, todos os que participam se sentem parte disso. Na experiência e no quotidiano ouvimos muitas vezes que os projectos sofrem imensas alterações antes de serem terminados. Sofrem muitas modificações, quer porque não há pormenores, ou porque não se interessam com as mudanças intermédias. Quando há que planificar uma formação dentro da obra e o processo de construção é o momento que percebemos todos “esses vícios” porque damos conta que isso não pode fazer parte da formação. E nesse sentido, é mais difícil trabalhar com os materiais naturais que temos disponíveis, porque tanto o projecto como a execução da obra, têm de ser resolvidos com antecedência. Como se começa tem que seguir, por que? Porque as alterações depois podem custar muito caro, não só em termos económicos, mas em termos técnicos (possíveis patologias), ou ambientais, humanos, antropológicos e sociais. Porque se fizermos uma mudança para melhorar somente o aspecto técnico, por exemplo, podemos alterar a reflexão integral, e o impacto poder ser  tão negativo a ponto de  ir para além  do previsto.

 Em 2011 aconteceu  o congresso da União Africana dos Arquitectos, e palestrou sobre arquitectura com materiais locais para o desenvolvimento sustentável de Angola. Acha que volvidos 5-6 anos crescemos de alguma forma em termos de uso de materiais que ajudem na sustentabilidade?
Não, não acredito. Mas o mundo segue outra lógica e embora o conceito é positivo, depender das políticas económicas de consumo, não ajuda em nada,  pois  pensar na sustentabilidade, significa parar, e pensar em nós; e poucos se dão o tempo para isso. Basta analisar a velocidade dos avanços, entre outros os tecnológicos, e o ritmo de vida que levamos.

Sustentabilidade é um chavão, um ‘slogan’ apenas?
Bem, depende de como é utilizado. Mas tentemos ver desde outro ângulo: sabemos que desde o mês de Agosto nós começamos a consumir coisas que o planeta já não tem capacidade de produzir, esgotamos toda produção de água e materiais; tudo o que o planeta pode gerar de maneira sustentável, sem ter um impacto negativo, termina em Agosto. Isso quer dizer que agora estamos a consumir a crédito. Um terço da nossa vida tem impacto negativo na vida do planeta. E quem está mentalizado disso? 
O mundo da construção gera quase 50% dos resíduos que se produzem no mundo. O projecto tem que ser sustentável em todo o seu processo (concepção, execução e usufruto)! Hoje é habitual, ver obras onde, em todo momento, entram e saem camiões com materiais que foram comprados, que alguém produziu e foram gastos materiais locais, seja qual for (telha cerâmica, azulejo, tijolo, etc) foi transportado de qualquer sitio, o cliente pagou esse processo todo, o pedreiro construiu; mas (sempre há  mais um na historia) alguém mandou partir, e há entulho para transportar ao vazadouro, há trabalhos de emendar e o ciclo começa de novo. O transporte de materiais só é medido em termos económicos, mas poucos pensam nisso em termos ambientais. Onde ficam as emissões de CO2 ou gás efeito inverdadeiro(poluição)? Nada faz sentido! Então eu digo, “Hoje, no caso dos materiais naturais e locais, pode ser que a obra não é de todo  económica (barata) que poderia ser, em princípio porque nós não temos esse contexto (mercado, ciclo, a prática e a experiência, etc) que ajude para uma construção sustentável; no entanto, em todo esse processo, a obra termina e o resíduo que há de sair dessa construção é mínimo, nós aproveitamos quase tudo.
 
No caso dos materiais locais...?
Exacto. Tudo deveria ser contabilizado, porque também contribui para a poluição e o lixo que estamos gerando num mundo que não encontramos lugar onde pôr, que está a contaminar-se e estamos a fazer crédito para um planeta onde dissemos que aplicamos políticas ‘sustentáveis’.
 
Naquela altura (2011) já dizia que, no mundo, entre 35-50% da população vive em habitações de terra. Mas como é que avalia a realidade do país (Angola) quanto ao uso de materiais locais, sobretudo o uso da terra como material de construção?
Os  novos dados/projeções(2017) publicados do último Censo populacional  calculam que já somos 28 milhões (em Angola) e 7 milhões na província de Luanda e a 2.ª província mais populosa é a Huíla; mas ainda não sabemos a relação em termos de cidade e aldeias. No entanto, consultei um relatório da UNICEF do ano 97 que dá todo o tipo de indicadores sociais, e dava os seguintes resultados: 56% de habitações de materiais tradicionais (adobe, pau-a-pique, madeira), e o 35% convencionais. E nas cidades apenas o 1% das habitações eram apartamentos. Já no ano 2000 ou 2001, Luanda tinha aproximadamente 1 milhão e 800 mil habitantes. Esses cortes históricos permitem contar as estatísticas e estudar a situação naquela altura, e percebermos que hoje essas relações diminuíram consideravelmente.
 
Hoje, pelo menos os dados definitivos do censo população, dizem que mais de 50% da população vive em zonas urbanas. Portanto, estamos a falar de cerca de 40% que vivem na zona rural, e lá está: nas zonas rurais há muita habitação/construção que não é feita em bloco de terra.
Mas considero que nas zonas rurais ainda predomina a construção em bloco de terra (adobe). O problema é que é tão reduzido que talvez chegaria a 30% do total das habitações. Agora, uma característica é que praticamente a totalidade não tem condições de habitabilidade porque apresentam muitas patologias que sem chegar a tornar a construção obsoleta, produz na família ou quem habita nela doenças ou outras consequências.

Quem acompanha o seu trabalho (os arquitectos, os engenheiros e a sociedade de uma maneira geral) vai querer saber: porquê da arquitectura de terra, porquê bloco de terra, porque não betão? Qual é a vantagem do bloco de terra?
Há várias razões, de múltiplas vertentes, e não se decide de maneira unilateral. O importante é destacar que no mundo da construção todos os materiais são úteis, mas para poder falar de sustentabilidade, é importante encontrar a melhor  utilização para cada um. Para além do estritamente técnico, podemos analisar questões económicas, sociais e antropológicas. Para mim, a razão de mais peso, é precisamente a “não-razão”, pois trata-se da emoção. Os materiais convencionais explicamo-los pelas características quantificáveis (resistência, custo, peso), mas quando queremos falar ou perguntar sobre a terra, os adobes e os materiais locais, a grande maioria, fazem referência a casa do avô, as histórias de família, as lembranças, como era grande, espaçosa e fresca. E falamos de emoções. Como qualificar ou quantificar uma emoção? Pois é… é muito difícil. Mas, por outro lado, se nós precisamos de condições de habitabilidade, porque ser transigente com isso e negar, diante de um material que não oferece as condições e ainda pior, pode fazer mal a saúde? Então, como nenhuma destas consequências estão avaliadas, podemos partir do princípio de que, se é um testemunho que passou de geração à geração e aquela geração era saudável, quer dizer que aquele material é nobre e pode apresentar soluções para determinada população. 
Nem tudo pode ser feito com terra, agora uma grande parte, uma determinada escala pode ser utilizada, porque também está bem desenvolvida, as cidades sobre uma das questões que depois vamos falar sobre a Nova Agenda Urbana, mas uma questão é clara, na cidade existem outros materiais porque há que resolver outros parâmetros e outros critérios. 

Mas, voltando á escala de uma família, quando nós construímos com materiais de betão e materiais envidraçados, e respondendo às leis e condições de segurança, podemos utilizar simplesmente 10-20% da resistência do material e as vezes até é muito; então se está a gastar muito para uma exigência que não é tanta em estrutura. Agora, há que conhecer o material, e por isso começa o trabalho quando é  em comunidade e o grupo social é que faz parte, que é do local, dá a sua experiência ou o seu contributo nisso, porque eu posso ter 1.000 livros que falem da qualidade da terra, mas não tenho nada que fale das propriedade da terra do local onde eu estou. Então tenho que começar a saber como a comunidade e as pessoas têm trabalhado com isso, que sabem, que se lembram e depois é como o processo de um arqueólogo que deve reconstruir,  tudo porque nós temos situações derivadas daquele conflito que tivemos durante tantos anos, então o que acontece? Aquele que era do Sul está no Norte, o do Norte está no Leste... cada um esqueceu como era o seu património cultural em termos de saber fazer. E mesmo copiado à perfeição o resultado pode ser bem diferente. Por que não sabem copiar? Não é por isso, mas a terra de Benguela não é a mesma que a do Huambo, a do Moxico não é a mesma que a de Luanda. Então quando começam a trabalhar dá no que dá, cada ano temos notícias de montes de casas que desabam, mas, como não vão desabar se as pessoas não têm ideia de como são os materiais? Copiaram a técnica de maneira superficial, mas não entenderam os critérios e regras fulcrais da arte e da técnica. Tem que se estudar o material, há que se dar a possibilidade de refletir.