"O NOSSO ENSINO DA ARQUITECTURA É NEOCOLONIAL"
Por: C. Martinho
Ângela Mingas(fonte: Google/redeangola.info)
Bastante franca e objectiva como sempre, nesta primeira parte da conversa interessante que mantivemos, a nossa interlocutora discorre sobre temas que dizem respeito à produção e estilos arquitetónicos, o património e o ensino da arquitectura em Angola que considera "neocolonial" e expõe os seus argumentos de razão;
A arquitecta Ângela Mingas é licenciada pela Universidade Técnica de Lisboa desde 1998. Mestre em Arquitectura sobre o "Centro Histórico de Luanda" pela Universidade Lusíada do Porto, docente/coordenadora do curso de arquitectura da Universidade Lusíada de Angola e Directora do Centro de Estudos e Investigação Científica de Arquitectura, e nesta entrevista debruça-se sobre o décimo Fórum de arquitetura que a ULA realizará este ano cujo tema central é " O Estado da Arte".
Qual é o quadro actual sobre a preservação do património edificado em Angola?
Nós temos no País o Património distribuído de forma desequilibrada. Temos duas Províncias que representam com mais expressão o património que está classificado, estamos a falar de Luanda e Benguela com 42% e 15%, respectivamente. Depois temos algumas (províncias) que praticamente não têm património classificado, ou seja, "Monumentos" que é como os edifícios devem ser designados quando classificados e tombados, ou então o "Sítio", quando estamos a falar de lugares. Então, se formos pela linha legislativa, do que é que formalmente está classificado como "Monumento" e/ou "Sítio", sem sombra de dúvidas que Luanda, pela sua condição centenária, tem uma arquitectura, do ponto de vista histórico, mais representativa. Luanda abarca cerca de metade do património edificado do País, sendo a província menor em termos de superfície. Portanto, a preservação do património numa província que só tenha um ou dois edifícios classificados é tranquila, mas quando estamos numa cidade como é Luanda, onde existem acima de uma centena de edifícios classificados, sendo que 80 deles estão aqui na zona baixa da cidade, aí a situação é mais difícil;
Mas o conceito de património não se resume ao que é classificado, pois não?
Claro que não! O fenómeno psico-sociológico de apropriação do objecto é o que, em primeira instância, atribui essa categoria ao edifício. A "classificação" é um acto administrativo e que tem como finalidade conferir prerrogativas especiais ao objecto. Mas, voltando à questão da preservação, se estivermos a falar de património classificado, portanto, dos Monumentos e Sítios, e se nos ativermos à cidade de Luanda (que é a cidade-laboratório, a mais expressiva de Angola, quer queiramos ou não) vamos encontrar uma realidade dual. Por um lado nós temos património de escala maior e este é preservado, até porque é motivo de orgulho da sociedade Angolana. Estou a falar do caso da Fortaleza de São Miguel, do Banco Nacional de Angola, do Liceu Muto Ya Kevela, e de tantos outros edifícios que conhecemos e reconhecemos como edifícios públicos (Museus, Ministérios, Sedes Governamentais ou Palácios). Por outro lado, quando falamos de património de escala menor, que é aquele que constrói a paisagem histórica e consequentemente a estabilidade da estrutura urbana, podemos sim falar em risco e em situação de emergência. Refiro-me especificamente a quatro tipologias que têm vindo a ser muito agredidas nos últimos dez anos, falo dos Sobrados, das Casas Típicas, dos Chalés e das Casas Nobres;
Foto: Ernesto Samaria
O quê que se pode fazer para preservar este património menor, que está relacionado com pequenos edifícios com valor patrimonial mas que não são públicos?
Existem vários braços de acção, mas julgo que o primeiro deles passa pelo conhecimento, sensibilização da população/comunidade, mas não só, acima de tudo, por políticas de fomento cultural. Considerando que neste momento temos o nosso País com a acção governamental virado para o desenvolvimento macroeconómico industrial, e que esse foco não mira o campo cultural, significa portanto que cultura em Angola não representa dinheiro. Estes níveis de desenvolvimento ou de entendimento social do que gera ou não riqueza são diversos e devem ser vistos por estágios da agricultura, indústria, serviços até à cultura (hoje em dia há países no mundo em que a fonte de riqueza é a cultura). Então, quando nós temos um Monumento como um Sobrado, ou uma Casa Típica, perguntamo-nos: como é que este edifício vai ser reintegrado na cidade? Porque o pensamento tem a ver com a requalificação e a reintegração. A resposta é que a cidade deve adaptar-se à sua condição e os edifícios destas tipologias têm o seu papel nessa adaptação, são intersticiais, resolvem a escala humana tão necessária para as actividades lúdico-culturais urbanas, ou seja, a cultura como solução;
Como acha que estamos em termos de aceitação da arquitectura, pela sociedade, enquanto disciplina, enquanto arte? Acha que à semelhança da música, literatura, pintura e outras artes, a arquitectura tem o espaço que devia na sociedade angolana?
Ainda não, porque nós não temos este mercado criado. Temos o mercado da construção, da imobiliária que são brutais e que absorvem o arquitecto. Mas o mercado da arquitectura que tem a ver com o pensamento crítico sobre a obra construída, aonde nós temos o arquitecto como autor/criador e como homem de cultura, esse mercado não tem expressão. Falta-nos a crítica como processo de valorização da obra, falta-nos a Arquitectura como Objecto Artístico e sobretudo falta-nos a intelectualidade necessária (entre nós) para ver a arquitectura para além de um fenómeno de mera construção, mas sim como um marco vivencial e por isso mesmo significante. Como se não bastasse, a Obra (Artística) de Arquitectura é muito cara, nada comparado à Obra da Música, Literatura, etc… Se pudéssemos construir com a mesma facilidade (recurso financeiro) com que se publica um livro ou disco seria muito bom. Enfim, é complexo…
Angola viveu momentos áureos de grande produção arquitectónica, nos anos 50/60 e hoje quando se estudam edifícios em Angola fala-se sempre das obras de Vasco Vieira da Costa, Castro Rodrigues e outros. Como é que avalia a produção arquitectónica no período pós-independência?
Muito mal. Primeiro porque eu não conheço o perfil intervencionista. Quando se fala dos anos 50/60 estamos a falar de um fenómeno massivo de urbanização em Angola nas colónias Portuguesas de então, sustentada pela Tratadística do Gabinete de Urbanização Colonial - GUC (1948) e este fenómeno arquitectónico quando surge vem com linhas de intervenção previamente definidas por arquitectos, sabemos o que eles pensavam, o que tinham como perspectiva do futuro, assim como podemos ler e compreender o pensamento de Kubitshek traduzido em Lúcio Costa e em Niemeyer. Falando do caso de Angola pergunto-me: qual é o perfil? E se existe, partiu de Arquitectos? Se sim, quem são? O que vejo são sempre encolher de ombros. Posto isso, o que conheço são as linhas de desenvolvimento estratégico-político, que por serem extraordinárias são dignas de palmas. Gosto de termos tido a ousadia de querer construir, do positivismo do "mãos-à-obra", da ideia reconstrução e apetrechamento do País. Não sei se gosto tanto do fenómeno "Centralidades" pela fragilidade do seu significado quer urbano, quer administrativo e questiono metodologicamente a ideia do planeamento por não ser inclusivo do ponto de vista do pensamento crítico da academia e em alguns casos da sociedade civil. Resumindo, não consigo encontrar uma âncora sustentável do pensamento crítico da arquitectura nem tão pouco a marca da obra dos angolanos contemporâneos neste processo.
Estamos a falar de carência….
Ausência mesmo, não conheço este pensamento, conheço sim investimento de bilhões e bilhões de dólares, à volta da construção, mas a construção pressupõe projecto, projecto pressupõe arquitectura, arquitectura pressupõe pensamento, é esta primeira peça do dominó que eu não conheço;
Nas escolas de arquitectura estudam-se muitos edifícios projectados nos anos 50/60. Será que estudam-se também edifícios do período pós-independência?
Sim. Um deles é o novo Edifício da Assembleia Nacional, estamos a falar de equipamento colectivo. Ao nível da habitação fazemos o estudo das centralidades, porque quando falamos da disciplina da arquitectura ou é habitação ou equipamento. Na habitação existem várias tipologias mas é muito difícil chegar ao arquitecto propriamente, na maior parte dos casos os projectos vêm de fora, geralmente o arquitecto nem vive cá. Se nós quisermos estudar um condomínio procuramos saber quem é o projectista dizem-nos que é o Gabinete tal, "quem é o arquitecto que desenhou? Não vive cá" então fica difícil;
O movimento moderno marcou profundamente a arquitectura. A arquitecta Maria João diz que "não aconteceu mais nada de extraordinário depois do modernismo"; Mas a questão que se coloca frequentemente é que estilo arquitectónico está a ser feito nos nossos dias, modernismo, pós-modernismo, contemporâneo? Qual é a sua opinião?
Modernismo claramente não é, pós-modernismo também não, eu acho que a esta altura do campeonato… (…risos..), a João se estivesse aqui já dava numa boa discussão, porque modernismo, de facto, surge até acompanhado de novas tecnologias absolutamente extraordinárias, quer dizer, a invenção do betão armado no final do século XIX é que cria espaço para a arquitectura moderna, mas ela entra em crise nos anos 60, com toda crítica que fazem arquitectos de referência como Aldo Rossi, Robert Venturi, Vittorio Gregotti, Bernard Rudovsky, até ao regionalismo critico de Siza Vieira, todos estes são pensadores e maneiras de começar a questionar o modernismo;
Então, o modernismo está vivo, morto ou em desmaio?
Eu nem sei, porque hoje em dia sinto que, do ponto de vista tecnológico a arquitectura já não responde necessariamente aos princípios funcionalistas do modernismo, mas ela não se afirmou através de uma acção impositiva e definitiva.
E aquilo que chamava de "irmão de Cristo do modernismo" que é o pós-modernismo, e numa palestra dizia que não sabia se já chorávamos esse "morto", se o "komba" já foi….
Pois, nós estamos a chorar este "quase" morto, como se fosse o velho acamado. É óbvio que o modernismo é a grande referência estética da arquitectura principalmente Europeia (que se expandiu para todo o mundo com a colonização) e o pós-modernismo também, porque quando vemos um modernismo de austeridade, a sistematização, o funcionalismo, o racionalismo, uma série de princípios estético-formais, "less is more", tudo isto se estrutura quando existe uma crítica feita pelo pós-modernismo, quando temos um homem (Robert Venturi) que contraria Mies Van Der Rohe, dizendo não é "less is more"(menos é mais) é " "Less is bore"(menos é aborrecido/monótono), isto é um modernista a questionar o modernismo, é uma luta dos filhos com pais, há aqui uma crise, o pós-modernismo para mim é a crise do modernismo;
Nas suas comunicações fala com alguma frequência de Le Corbusier, que acabou influenciando, se calhar até determinando o curso da arquitectura que se fez no século XX e até algumas coisas que se fazem hoje. Qual é a sua apreciação sobre a obra de Le Corbusier enquanto arquitecto, artista e pensador?
Eu tenho fascínio pela coragem de Corbusier, porque não é fácil em 1923 escrever o livro como ele escreveu "Vers une architecture" aonde ele de facto, com coragem, abre as portas para uma nova maneira de pensar arquitectura, embora à distância nós o possamos ver como um radical, muitos de nós até acredita que ele tenha sido um arquitecto ditatorial, na sua maneira de ver, mas naquela altura foi necessário para partir um determinado conformismo. Mas quando Corbusier escreve "versune architecture" foi há 92 anos, então nós temos que saber beber de Corbusier, temos de saber "destilar" Corbusier, quer dizer, pegar em Corbusier com tudo aquilo que ele fez que é útil e "destilar", e é o que tem vindo a ser feito até com a crítica ao próprio modernismo. Então, Corbusier brilhante sem qualquer sombra de dúvidas, corajoso, ditador absolutamente (..risos..) e inovador também, mas absolutamente necessário. Mais ainda, Corbusier influenciou dois dos maiores pensadores da arquitectura em Angola: Simões Lopes de Carvalho e Vasco Vieira da Costa. Estes dois homens foram "criados" nas escolas de Corbusier, no atelier dele;
Edifício para servidores do Estado-Luanda, projectado por Vasco Vieira da Costa
Enquanto docente e arquitecta, como avalia a qualidade do ensino da arquitectura em Angola? Como encara os conteúdos curriculares, acha que o que ensinamos e produzimos é o que o mercado e a sociedade precisam?
O nosso ensino da arquitectura é neocolonial. Vou ter que explicar bem a minha resposta: digo isto porque quinze anos depois de começar a trabalhar nesta área específica da formação do arquitecto (e a escola de arquitectura da Universidade Lusíada é responsável por cerca de uma centena de profissionais que está no mercado) chego á conclusão que as nossas ferramentas de trabalho não correspondem a aquilo que eu acredito ser o perfil do arquitecto angolano/africano. Porquê? Porque nós temos por herança uma formação de arquitectura eurocêntrica, não conhecemos a nossa realidade do ponto de vista cultural e filosófica, e aí por consequência tudo aquilo que nós aprendemos e a nossa acção imediata sobre as coisas não corresponde a aquilo que, primeiro deveria ser o nosso perfil de intervenção, e segundo aquilo que deve ser a maneira que vermos a arquitectura.
Bom, um dos exemplos que posso dar aconteceu recentemente na TPA, sobre o impacto da intervenção do Gabinete de Reconversão do Rangel, Cazenga e Sambizanga - GTRCS, em que no decorrer da conversa, o colega Bento Soito disse que para além da reconversão física do espaço seria necessário fazer a reconversão mental do cidadão para que o mesmo pudesse utilizar melhor o produto que iria ser colocado à sua disposição no futuro pelo Executivo. A ideia passava pela necessidade de elevação ou conferir dignidade, à população do Cazenga através de novas tipologias arquitectónicas e melhoria do espaço público. Bom, eu parto do princípio que a dignidade não é um título, logo não se o outorga, menos ainda pela via de um objecto inadaptado. Tive que me manifestar contra, por uma razão muito simples: a reconversão mental de um cidadão, para que ele possa absorver arquitectura, isto quer dizer à partida, que nós estamos a dar ao cidadão uma arquitectura que não conhece, que formalmente ele não reconhece como um espaço;
Mas isto também tem a ver com o elevar da qualidade de vida das pessoas…
É aqui onde entra a estória do neocolonial. Embora possamos partir do princípio de que somos todos iguais, facto é que antropologicamente falando, as sociedades têm maneiras de ver as coisas completamente diferentes. Vejamos a alimentação: uns comem com as mãos, outros com garfos e outros tantos com palitos e nenhum tem mais dignidade que o outro. Não posso reconverter o asiático para passar a comer com garfo, é aqui onde entra o neocolonial. Eu preciso conhecer a população para a qual vou desenhar/fazer arquitectura para não correr o risco de dar ao cidadão de qualquer País uma realidade arquitectónica que lhe vai fazer mudar o seu comportamento e ver-se a si mesmo como estando errado de princípio. Por exemplo, estive em Singapura (uma cidade/estado das mais desenvolvidas do mundo e que em quase todos os parâmetros da qualidade de vida está nos 10 primeiros), num shopping center de altíssima qualidade ao dirigir-me às instalações sanitárias deparei-me com o facto de que as cabines tinham maioritariamente latrinas ao invés de sanitas. No entanto, em Paris, nem latrinas utilizam. Isto faz-nos reflectir sobre se o problema é de qualidade ou de mentalidade.
Quando fala em latrinas refere-se à chamada "pia turca"?
Exactamente, mas de altíssima qualidade, com descarga sifão e tudo, mas é uma latrina. Eu não fui educada a usar latrina, mas se nós fizermos contas quantas pessoas em Angola utilizam uma latrina? Verificamos que é um número considerável, talvez a maioria;
Então, isto quer dizer o quê?
Quando ensino os meus alunos arquitectura porquê que não os instruo a projectar uma instalação sanitária que também contemple a latrina? Porquê é que temos essa vergonha intrínseca do que somos? Os processos de afirmação da identidade devem ser tranquilos, o que vejo é no íntimo considerarmos todos que o que é dos outros é melhor e não o inverso.
O quê que falta e quem tem que orientar isso, Ângela, para que se faça esta mudança?
São os professores e os estudantes. Mas, os currículos dependem também do Ministério do Ensino Superior e a partir do momento que utilizo bibliografia que não comporta estes valores não posso mudar muito e fica difícil. Mas há sempre como contornar isso;
Esta ideia do ensino neocolonial da arquitectura nos dias de hoje parece bastante forte, não acha?
A ideia do neocolonial justifica-se porque nós não podemos querer afirmar princípios culturais nossos através dos actos dos outros. Quando eu falo de historia de arte porquê que só falo da antiguidade greco-romana?
Pedro Neto propunha uma cadeira de história da arquitectura de Angola…
Não é história da arquitectura de Angola, porque a historia de arquitectura tem Angola também, assim como China. Os alunos do primeiro ano ficam encantados com as aulas de história de arte, nós estudamos também a Europa como é óbvio, mas temos que dar também a Asia. Como é que eu estudo história da arte/arquitectura e não conheço nada dos Incas? Pois o eurocentrismo é neocolonial, é só por causa disso;
Acha que temos necessidade de separar a arquitectura do urbanismo no ensino, como acontece em alguns países da Europa?
Eu sempre pensei no urbanismo como uma especialidade ou consequência da arquitectura, eu não imagino o urbanismo sem passar pela arquitectura, porque a arquitectura vai conferir ao pensamento urbanístico a ideia do pormenor, do ponto de partida da parte, não se pode compreender o todo sem perceber a parte. Mais ou menos como os médicos, que o são em primeira instância de "Clínica Geral" e depois de "Especialidade" uns oftalmologistas, outros pediatras, assim por diante, mas primeiro devemos ter uma base.
Talvez fosse pertinente lembrar as palavras de um arquitecto paisagista que num fórum dizia que "os arquitectos não percebem nada de ordenamento do território". Isto vem a propósito da formação do arquitecto que, segundo algumas vozes, não comporta um conjunto de disciplinas relacionadas com o território que levam a conclusão de que não estaria em condições de lidar com esta área complexa do saber..
Eu acho que quem faz um curso de arquitectura, estuda geografia, demografia e a própria disciplina de projecto que possui escalas de pensamento e intervenção diferentes. Agora, se um arquitecto em particular sai da escola e não percebe nada disso, é a mesma coisa dizer que o médico não estudou anatomia, não é possível; O quê que o urbanista tem na sua formação de base que o arquitecto não tenha? Não sei, aquilo que eu consultei nos curricula de urbanismo, (fase de implementação da licenciatura de arquitectura na Lusíada), foi principalmente carga horária e de facto algumas disciplinas (específicas da área da gestão e política) que nós em arquitectura não temos como formação curricular…mas não acho que seja isso que justifique uma separação disciplinar que não seja consequência uma da outra.
Há muitas críticas em relação ao produto das escolas privadas de arquitectura, há quem considere que a qualidade é baixa. Acha que há motivos para preocupações sobre esta matéria?
Eu não gosto muito de generalizações mas julgo que tenha a ver com a honra de cada um. Se o princípio de acção de cada um de nós for consciente e honrado a qualidade do conjunto e do produto será sempre uma consequência natural. Tudo parte das pessoas, e isto não é específico de ser uma escola privada ou pública, até porque grande parte das escolas privadas (não é o caso da ULA por força de circunstâncias) mas grande parte das privadas têm como professores docentes das escolas públicas, portanto, se eles saem da escola públicas e vão para as privadas o que está errado? O sistema ou os indivíduos?
A Universidade Lusíada de Angola, realizou o ano passado um conjunto de actividades interessantes relacionadas com a arquitectura e urbanismo que marcaram positivamente a classe e a sociedade. O quê que teremos este ano?
Este ano vamos estar a celebrar 10 anos de fórum de arquitectura e urbanismo. São dez anos de perseverança e continuidade, com altos e baixos, mas são dez anos. Este ano vamos fazer um fórum que terá como slogan/lema: " O estado da arte". Vamos expor e debater sobre todas as nossas linhas de estudos e investigação; os estudos da cidade de Luanda, especificamente sobre a qualidade de vida, vamos fazer uma publicação dos dois anos do workshop dos Musseques (as actas dos dois anos consecutivos), a exposição dos centros históricos de Angola da região Norte (Luanda, Muxima, Massangano, Mbanza Congo), o quê que temos em comum ou os que fazem diferentes, vendo o património não apenas na perspectiva do edifício mas do lugar urbano. Também vamos reforçar mais uma vez esta ideia (que quero cada vez mais hegemónica) do arquitecto africano, o Design Africa Symposium, trazer de novo os nossos, que foi muito bom termos tido o ano passado aqui, Joe Addo, Luyanda Mpahlwa, Annette Fisher, Maria Marealle, vamos reforçar toda esta linhagem de altíssimo nível que são os arquitectos africanos, e como não podia deixar de ser, arriscar uma conferência sobre "arquitectura no feminino". Resumindo e concluindo o fórum este ano vai falar sobre o estado da arte, a nossa arquitectura, o que nós fazemos do ponto de vista da investigação e a ideia da africanidade, a filosofia bantu do africano, o nosso lugar no mundo, o que temos de diferente, ou semelhante e conversar cada vez mais sobre nós;
Participantes ao Design Africa Symposium 2014/ULA(foto: C. Makimba)
Participantes ao Design Africa Symposium 2014/ULA(foto: C. Makimba)
Ler essa entrevista é como que eu estivesse ao lado ouvindo a arq. a falar. e ouvir quem sabe é melhor ainda. parabéns arq. Angêla e a acrimar que não parem de emplementar esforços em prol da Arquitectura Angolana.
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