sexta-feira, 8 de maio de 2015

UM ANO DE “ CONVERSAS COM ARQUITECTOS”;


Por: C. Martinho
Em Abril de 2014 começamos um projecto informal que designamos “conversa com arquitectos” cujo objectivo foi auscultar os vários profissionais da arquitectura e urbanismo, visando a partilha de informações/conhecimentos nestes domínios, tendo como justificação a ausência de revistas especializadas e programas nos órgãos de difusão massiva em Angola, que abordassem tais temáticas. Na verdade sentíamos na altura, e ainda sentimos, um vazio grande na publicação e divulgação de factos, projectos, estudos e reflexões em matéria de arquitectura nas várias escalas, desde o edifício/cidade ao território, um tipo de “ignorância da arquitectura” como a que se referia o crítico italiano Bruno Zavi no desabafo do seu célebre livro “Saber ver a arquitectura”.

Todavia, esta ideia não foi concebida do laboratório, teve como centelha/chama, talvez um ponto de partida incidental, numa declaração “bombástica” do jovem arquitecto Samuel Domingos, que num belo dia em Abril do ano passado apareceu no atelier da ACRIMAR e proclamou aos quatro ventos: “Sou o Melhor Arquitecto de Viana”. Com a anuência do autor, o Jovem Fábio Martinho gravou em vídeo o depoimento de Don Samu que foi partilhado, vindo a evoluir para uma conversa gravada conduzida por ele e Jordão Alves, jovens projectistas da ACRIMAR e estudantes de arquitectura. A “entrevista” foi publicada na página do Facebook do Gabinete e mereceu várias reacções/comentários de arquitectos, engenheiros, estudantes e outras sensibilidades da sociedade cibernética Luandense ligada a arquitectura e não só;

Ora, com o alcance, apesar da polémica que a primeira experiência teve, algumas vozes sugeriram a ideia de levar avante a iniciativa pelo interesse que os profissionais e estudantes de arquitectura demonstraram e então fizemos uma segunda conversa conduzida pelos mesmos “entrevistadores”, sob a nossa supervisão e ouvimos o jovem arquitecto Zé Martinho e seguiu-se o Arq. Ilidio Daio, este entrevistado pelos manos Z e C. Martinho daí em diante a coisa começou a ficar mais séria e ouvimos outros jovens arquitectos e nomes mais conceituados, os colossos da nossa praça incluindo um renomado arquitecto brasileiro. Elencamos abaixo em ordem cronológica a sequência das conversas com arquitectos, divididas geralmente em duas partes, cujos títulos são da responsabilidade da ACRIMAR:

1.       SAMUEL DOMINGOS (DON SAMU), Abril de 2014, títulos: “Sou o melhor arquitecto de Viana” e “ Se me derem oportunidade, farei o mesmo que os grandes arquitectos de nível mundial";
Arq. Samuel Domingos «Don Samu»:  "Le Corbusier não era arquitecto,... posso considerar que ele foi um gênio"

2.       ZÉ MARTINHO, Abril de 2014, títulos: “Em arquitectura temos de aprender a estudar e procurar soluções para os problemas locais” e “As obras de arquitectura não devem ser meros abrigos, mas arte associa-se à arquitectura como um condimento, não é a base”;
            Arq. Zé Martinho: "Não sou uma pessoa que se define pelos critérios da maioria"

3.      ILÍDIO DÁIO, Maio/14, títulos: “Pratica-se o urbanismo e não o planeamento urbano. Há necessidade premente de harmonização e adequação das intervenções urbanísticas ” e “Em Angola em termos de arquitectura, há poucos bons exemplos”;
 






 Arq. Ilidio Daio: Há ausência total dos arquitectos angolanos, ausência das obras dos arquitectos na criação destas centralidades,



 
   4.       JOSÉ MANECO BUNDA, Junho/2014, título: É preciso encostar à parede aqueles que exercem a profissão de arquitecto sem estar inscritos na Ordem”;

5.       VALDIMIRO NETO, Junho/14: “O Zango é um exemplo bonito de musseque urbano”
                        "Luanda está a ser um péssimo exemplo para as outras províncias", Arq. Valdimiro Neto
            
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Arq. José Maneco Bunda: "Quando  projectamo às vezes somos um pouco egoístas"                                

6.       MARIA TELES GRILO, Novembro/14 “Hoje nós não fazemos arquitectura” e “O modernismo é dos movimentos mundiais mais importantes do mundo”;
 
                                          "Os arquitectos estão perigosamente preocupados com a forma" 
                                                                                                                             Arq. Maria João T. Grilo 
 
7.       PEDRO NETO, Dezembro/14, “Há boa arquitectura no musseque, mesmo sem arquitectos” e “Em urbanismo não existe largo das escolas, é um erro que provoca desurbanização”;
                                   
Arq. Pedro Neto "Homem": "O que mais me apaixona em arquitectura não é a função, é a forma"

8.       JAIME LERNER, Janeiro/15, titulo: “ O carro é o cigarro do futuro”;

Arq. Jaime Lerner: "BRT não é só faixa exclusiva, não é uma coisa isolada"
 
9.      VICTOR LIONEL, Janeiro/15, título: Quem não está inscrito e exerce a profissão de arquitecto é ilegal /criminoso e “Aqui confunde-se muito, arquitectura e indústria”;
                                       Arq. Victor Lionel:  "Temos o hábito de pensar que as instituições não nos pertencem, a Ordem  somos todos nós"

10.  ÂNGELA MINGAS, Janeiro/15, títulos: “O nosso ensino da arquitectura é neocolonial” e “ Luanda é uma não cidade em colapso ambiental”;

Arq. Ângela Mingas: "Gosto de Zaha Hadid,  mas acho do ponto de vista estético ....  eu deixo-me seduzir mais pela obra de Issa Diabaté, de Luyanda Mpahlwa....Francis Kere"
 
11.  FILOMENA DO ESPIRITO SANTO, Fevereiro/15, títulos: “A grandiosidade não se mede só pela dimensão das coisas”, “ Se não responde às exigências e costumes locais não é boa arquitectura” e “ As nossas escolas de arquitectura têm um pendor de planeamento urbano muito «ao de leve» ”;
                                       Arq. Filomena Espirito Santo:  " Apenas imagem não chega, é preciso ter funcionalidade"

Estas conversas informais permitiram tirar ilações sobre o que os jovens e os “monstros sagrados” da arquitectura Angolana pensam; Para além daquelas que elencamos que são da nossa responsabilidade, fomos aos arquivos dispersos para retomar, digitalizar e trazer ao público por via do nosso site, blog e pagina nas redes sociais, várias entrevistas publicadas em jornais, de arquitectos de referência como Troufa Real, Simões Lopes de Carvalho, Manuela da Fonte, Ângela Mingas e Bento Soito. Temos vindo a cobrir factos e publicar pronunciamentos de arquitectos, urbanistas e engenheiros em fóruns que vão acontecendo por Angola e pelo mundo, com o auxílio dos nossos colaboradores;  

 
Pretendemos nas próximas oportunidades conversar com arquitectos já contactados como António Gameiro, Pedro Maiembe, Chico Zé e Manuela da Fonte em Portugal. Temos a ideia de promover uma mesa redonda com alguns entrevistados e se os recursos permitirem, publicar um “livreto” que traria o essencial das conversas. Cogitamos a possibilidade de publicar extractos dos vídeos das conversas.

Temos recebido apoio institucional e encorajamento da Ordem dos Arquitectos de Angola, Universidade Lusiada de Angola, Universidade Agostinho Neto e outras instituições públicas e privadas, bem como pessoas individuais à quem agradecemos mui sinceramente, especialmente os ilustres arquitectos que abraçaram a nossa odisseia. É o pouco do muito que gostaríamos fazer pela arquitectura, a cidade, o território e a sociedade. Aguardamos pelas vossas sugestões;

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