Por: C. Martinho
Em Abril de 2014 começamos um
projecto informal que designamos “conversa com arquitectos” cujo objectivo foi
auscultar os vários profissionais da arquitectura e urbanismo, visando a
partilha de informações/conhecimentos nestes domínios, tendo como justificação
a ausência de revistas especializadas e programas nos órgãos de difusão massiva
em Angola, que abordassem tais temáticas. Na verdade sentíamos na altura, e
ainda sentimos, um vazio grande na publicação e divulgação de factos,
projectos, estudos e reflexões em matéria de arquitectura nas várias escalas,
desde o edifício/cidade ao território, um tipo de “ignorância da arquitectura”
como a que se referia o crítico italiano Bruno Zavi no desabafo do seu célebre
livro “Saber ver a arquitectura”.
Todavia, esta ideia não foi
concebida do laboratório, teve como centelha/chama, talvez um ponto de partida
incidental, numa declaração “bombástica” do jovem arquitecto Samuel Domingos,
que num belo dia em Abril do ano passado apareceu no atelier da ACRIMAR e proclamou aos quatro ventos: “Sou o Melhor
Arquitecto de Viana”. Com a anuência do autor, o Jovem Fábio Martinho gravou em
vídeo o depoimento de Don Samu que foi partilhado, vindo a evoluir para uma conversa
gravada conduzida por ele e Jordão Alves, jovens projectistas da ACRIMAR e
estudantes de arquitectura. A “entrevista” foi publicada na página do Facebook
do Gabinete e mereceu várias reacções/comentários de arquitectos, engenheiros,
estudantes e outras sensibilidades da sociedade cibernética Luandense ligada a
arquitectura e não só;
Ora, com o alcance, apesar da
polémica que a primeira experiência teve, algumas vozes sugeriram a ideia de
levar avante a iniciativa pelo interesse que os profissionais e estudantes de
arquitectura demonstraram e então fizemos uma segunda conversa conduzida pelos
mesmos “entrevistadores”, sob a nossa supervisão e ouvimos o jovem arquitecto
Zé Martinho e seguiu-se o Arq. Ilidio Daio, este entrevistado pelos manos Z e
C. Martinho daí em diante a coisa começou a ficar mais séria e ouvimos outros
jovens arquitectos e nomes mais conceituados, os colossos da nossa praça
incluindo um renomado arquitecto brasileiro. Elencamos abaixo em ordem
cronológica a sequência das conversas com arquitectos, divididas geralmente em
duas partes, cujos títulos são da responsabilidade da ACRIMAR:
1.
SAMUEL DOMINGOS (DON SAMU), Abril de 2014,
títulos: “Sou o melhor arquitecto de Viana” e “ Se me derem oportunidade, farei
o mesmo que os grandes arquitectos de nível mundial";
Arq. Samuel Domingos «Don Samu»: "Le Corbusier não era arquitecto,... posso
considerar que ele foi um gênio"
2. ZÉ MARTINHO, Abril de 2014, títulos: “Em arquitectura temos de aprender a estudar e procurar soluções para os problemas locais” e “As obras de arquitectura não devem ser meros abrigos, mas arte associa-se à arquitectura como um condimento, não é a base”;
Arq. Zé Martinho: "Não sou uma pessoa que se define pelos critérios da maioria"
3.
ILÍDIO
DÁIO, Maio/14, títulos: “Pratica-se o urbanismo e não o planeamento urbano. Há
necessidade premente de harmonização e adequação das intervenções urbanísticas
” e “Em Angola em termos de arquitectura, há poucos bons exemplos”;
Arq. Ilidio Daio: Há ausência total dos arquitectos angolanos, ausência das obras dos arquitectos na criação destas centralidades,
4.
JOSÉ MANECO BUNDA, Junho/2014, título: “É preciso encostar à parede aqueles
que exercem a profissão de arquitecto sem estar inscritos na Ordem”;
5.
VALDIMIRO NETO, Junho/14: “O Zango é um exemplo
bonito de musseque urbano”
"Luanda está a ser um péssimo exemplo para as outras províncias", Arq. Valdimiro Neto
Arq. José Maneco Bunda: "Quando projectamo às vezes somos um pouco egoístas"
6. MARIA
TELES GRILO, Novembro/14 “Hoje nós não fazemos arquitectura” e “O modernismo é dos movimentos mundiais mais
importantes do mundo”;
"Os arquitectos estão perigosamente preocupados com a forma"
Arq. Maria João T. Grilo
Arq. Pedro Neto "Homem": "O que mais me apaixona em arquitectura não é a função, é a forma"
8.
JAIME LERNER, Janeiro/15, titulo: “ O carro é o
cigarro do futuro”;
Arq. Jaime Lerner: "BRT não é só faixa exclusiva, não é uma coisa isolada"
9. VICTOR
LIONEL, Janeiro/15, título: “Quem
não está inscrito e exerce a profissão de arquitecto é ilegal /criminoso “ e “Aqui confunde-se muito, arquitectura e indústria”;
Arq. Victor Lionel: "Temos o hábito de pensar que as instituições não nos
pertencem, a Ordem somos todos nós"
10. ÂNGELA
MINGAS, Janeiro/15, títulos: “O nosso ensino da arquitectura é neocolonial” e “
Luanda é uma não cidade em colapso ambiental”;
Arq. Ângela Mingas: "Gosto de Zaha Hadid, mas acho
do ponto de vista estético .... eu deixo-me seduzir mais pela obra de Issa Diabaté, de Luyanda Mpahlwa....Francis Kere"
11. FILOMENA DO ESPIRITO SANTO,
Fevereiro/15, títulos: “A grandiosidade não se mede só pela dimensão das
coisas”, “ Se não responde às exigências e costumes locais não é boa
arquitectura” e “ As nossas escolas de arquitectura têm um pendor
de planeamento urbano muito «ao de leve» ”;
Estas conversas informais permitiram tirar ilações sobre o
que os jovens e os “monstros sagrados” da arquitectura Angolana pensam; Para além
daquelas que elencamos que são da nossa responsabilidade, fomos aos arquivos
dispersos para retomar, digitalizar e trazer ao público por via do nosso site,
blog e pagina nas redes sociais, várias entrevistas publicadas em jornais, de
arquitectos de referência como Troufa Real, Simões Lopes de Carvalho, Manuela
da Fonte, Ângela Mingas e Bento Soito. Temos vindo a cobrir factos e publicar
pronunciamentos de arquitectos, urbanistas e engenheiros em fóruns que vão
acontecendo por Angola e pelo mundo, com o auxílio dos nossos colaboradores;
Pretendemos nas próximas oportunidades conversar com
arquitectos já contactados como António Gameiro, Pedro Maiembe, Chico Zé e
Manuela da Fonte em Portugal. Temos a ideia de promover uma mesa redonda com
alguns entrevistados e se os recursos permitirem, publicar um “livreto” que
traria o essencial das conversas. Cogitamos a possibilidade de publicar
extractos dos vídeos das conversas.
Temos recebido apoio institucional e encorajamento da Ordem
dos Arquitectos de Angola, Universidade Lusiada de Angola, Universidade
Agostinho Neto e outras instituições públicas e privadas, bem como pessoas
individuais à quem agradecemos mui sinceramente, especialmente os ilustres
arquitectos que abraçaram a nossa odisseia. É o pouco do muito que gostaríamos
fazer pela arquitectura, a cidade, o território e a sociedade. Aguardamos pelas
vossas sugestões;
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